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Semana Santa em Sardoal
História, Cultura e Tradição
Chegada esta época do ano todos os Sardoalenses se engalanam, de corpo e alma para receberem tão especial momento da nossa vida comunitária.
“De corpo e alma” como anteriormente disse, significa uma grande entrega, um forte empenho em viver e fazer viver, fazendo acontecer durante todo este período. O corpo materializa o que pode ser visto, acompanhado pelos sentidos, na expressão maior dos nossos tapetes com flores naturais que embelezam as nossas capelas e igrejas.
A alma convida-nos à reflexão, à introspeção, ao sentir que algo é diferente mesmo para os menos ou não crentes. Estados de alma que se refletem na abordagem que cada um faz ao ver passar uma procissão, seja ela a do “Senhor da Misericórdia” (Fogaréus) ou do “Anúncio Solene da Ressurreição do Senhor”.
Ninguém poderá ficar indiferente à união, na diversidade de todos os momentos que a nossa Semana Santa e Páscoa nos permite ver, cheirar, saborear e, principalmente, sentir.
António Miguel Borges
(Presidente da Câmara Municipal de Sardoal)
O leitor deste texto talvez se sinta sempre um vencedor, ou talvez, um fracassado, habituado a lamber as suas feridas, ou simplesmente não entenda nada do que acontece no munto que nos rodeia.
O fracasso não é uma teoria, mas uma dura e implacável realidade. Às vezes vem sorrateiramente, como se estivesse escondida, e de repente desequilibra, derruba, deixa-nos cheios de insegurança.
Acompanha-nos como uma sombra, como um murmúrio que não se compreende bem mas que não deixa de fazer barulho: em criança, na adolescência, em adulto, no primeiro emprego. Não sabemos exatamente o que é, mas dói, desgasta por dentro e não conseguimos removê-lo facilmente.
Paralisa as nossas capacidades, faz com que o filme da vida pare e não se saiba bem para onde ir. Tornamo-nos reis Midas, mas não transformamos em ouro o que tocamos, transformamos em confronto, inveja ou reprovação.
Aqueles que me amam sofrem comigo, mas também sofrem com a minha raiva, a minha indiferença. E quando percebo que os magoei, sinto-me ainda pior. Aqueles com quem compartilhei esforços ou projetos tornam-se vítimas de minha inveja ou sofredores de meu desprezo. Ao aproximarem-se para me entender, pior ainda, eu rejeito-os porque acho que eles só se querem aproveitar do meu infortúnio. O fracasso tem uma força destrutiva enorme, começa em um ponto e espalha-se para dentro e para fora. O maior sucesso do fracasso é quebrar-me a mim mesmo, quebrar-me por dentro e quebrar com quem está ao meu lado. “Quem pode resistir?” disse o salmista num destes dias.
A Semana Santa é o tempo do fracasso. De todos os fracassos que houve na história: das vítimas, dos que não conseguiram, dos rejeitados, dos excluídos, dos que não contam. Na Semana Santa levamos em procissão o grande fracasso deste mundo: veio a luz e não a reconheceram. É o grande fracasso de Deus, a sua impotência. Deus também se sentiu dominado pelo mal. Em Jesus Cristo reconhecemos como o fracasso atravessa tudo o que somos para nos deixar desamparados, nus. Na Semana Santa descobrimos que o fracasso é possível, que é algo real, que nos pode acontecer. Jesus, o fracassado, ensina-nos a inverter a dinâmica do fracasso. Com Jesus aprendemos a deixar-nos ajudar, precisamente quando a nossa fraqueza é maior. Sem falso orgulho, sem desprezo, justamente quando estamos caídos é que precisamos de uma mão que nos ajude a levantar, que nos devolva a confiança para continuar o caminho. Aceitar a ajuda dos outros é começar a canalizar a dor. Com Jesus aprendemos a não amaldiçoar, para que o fracasso não nos quebre por dentro, porque há uma promessa de um amor mais forte que nos fortalece. Confiar nessa promessa fortalece-nos para não quebrar por dentro. A esperança não é uma pequena frase, é um forte abraço que nos sustenta no meio das dificuldades.
Padre Carlos Almeida